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Farmacocinética

 

Absorção e Distribuição

 

O delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), principal constituinte do Cannabis, é um composto muito lipofílico, pelo que é distribuído no tecido adiposo, fígado, pulmões e baço.[4] Pode também distribuir-se pelo cérebro, atingindo altas concentrações na área neocortical (córtex frontal), área límbica (hipocampo e amígdala), área sensorial (visual e auditória), área motora (gânglio basal e cerebelo) e ponte. [2]

O THC é rapidamente absorvido pelos pulmões após inalação e alcança, rapidamente, altas concentrações no sangue, sendo que cerca de 90% do THC no sangue circula no plasma e o resto nos glóbulos vermelhos. [4]

É de salientar que, após a inalação o THC é detetado no plasma passados segundos após a primeira inspiração e o pico plasmático é obtido dentro de 3-10 minutos, sendo suficientes apenas cerca de 2,5mg de THC nos cigarros para produzir mensuráveis efeitos fisiológicos e físicos, em utilizadores ocasionais. [2]

Ainda assim, a biodisponibilidade varia de acordo com a profundidade e duração da inalação, assim como do tempo de apneia. Ainda, a metabolização hepática extensa pode reduzir a biodisponibilidade do THC para cerca de 4-12%. [4]

 

É assumido que cerca de 30% do THC seja destruído durante a pirólise, sendo a biodisponibilidade sistémica do mesmo cerca de 23-27% para os utilizadores frequentes e de cerca de 10-14% para os utilizadores ocasionais. [4]

A concentração máxima de THC detetado no plasma é observado aproximadamente 8 minutos após fumar, enquanto o 11-OH-THC tem um pico aos 15 minutos e o THCCOOH aos 81 minutos. [4]

É de salientar que a concentração de THC rapidamente diminui para os 1-4ng/mL após 3-4horas. Isto ocorre, visto que, após a entrada na corrente sanguínea, o THC é rapidamente distribuído pelo tecido adiposo e por tecidos vascularizados, incluindo o cérebro e músculo, resultando numa diminuição da concentração plasmática.[4] É ainda de salientar que, após isto acontecer, a redistribuição para a circulação sanguínea é lenta, pelo que são detetados resíduos de THC passado muito tempo após o abuso (30 dias). [2, 4] Com dosagem repetida, as altas concentrações de canabinóides conseguem acumular-se no corpo e alcançar continuamente o cérebro. [2]

 

Em comparação com a inalação, na ingestão oral, a absorção sistémica é relativamente lenta, resultando numa máxima concentração de THC apenas após 1-2horas (Gráfico 1), sendo que em alguns indivíduos pode ser observado mais que um pico de concentração plasmática. [4] Neste caso são apenas absorvidos 25-30% dos canabinóides obtidos pela inalação. [2] No entanto, uma concentração mais elevada de 11-OH-THC é observada após a ingestão em relação à inalação, o que sugere que a metabolização seja mais extensa por esta via.[4]

Figura 2 - Orgãos de distribuição do THC.

Gráfico 1 - Concentração plasmática de THC em função do tempo, por via inalatória e via oral.

Metabolismo e Eliminação

 

O THC é metabolizado no fígado, através de uma hidroxilação microssomal e de uma oxidação, catalisada pelo complexo citocromo P450. [4]

 

Mais de 65% do Cannabis é excretado nas fezes e aproximadamente 20% é excretado na urina, sendo que a maior parte do Cannabis (80-90%) é excretado em cerca de 5 dias sob a forma de metabolitos hidroxilados e carboxilados. [4]

 

Existem aproximadamente 18 metabolitos ácidos provenientes do Cannabis, que podem ser identificados na urina, sendo que na maioria são conjugados com o ácido glucorónico passando, desta forma, a serem solúveis na água. Os principais metabolitos são o 11- OH-THC e THCCOOH, sendo que o THCCOOH sofre glucoronidação e, por isso, é eliminado na urina enquanto que o 11-OH-THC é predominantemente eliminado nas fezes. [4]

 

É ainda de salientar que o Δ9-THC é extremamente solúvel nos lípidos o que leva a uma reabsorção tubular e baixa excreção renal. [4]

Figura 3 - Metabolismo do THC.

2.    Ashton, C.H., Adverse effects of cannabis and cannabinoids. British Journal of anaesthesia, 1999. 83(4): p. 637-649.

4.    Sharma, P., P. Murthy, and M.M.S. Bharath, Chemistry, Metabolism, and Toxicology of Cannabis: Clinical Implications. Iranian Journal of Psychiatry, 2012. 7(4): p. 149-156.

 

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